"Me chamam de Boca Braba, mas eu, nem brabo não fico / Não desfaço quem é pobre nem adulo quem é rico / Quando gosto eu elogio, quando não gosto critico / E onde tem 'galo cantando', eu vou lá e quebro-lhe o bico." João de Almeida Neto
Buenas Indiada! Estamos chegando para mais um programa do Boca Braba.
Quero mandar um quebra-costela de três volta e meia desejando que meu chasque encontre a todos com muita saúde e que o Patrão Eterno derrame suas bênçãos sobre todos nós.
A tropeada de hoje é sobre os Tronqueiras do Rio Grande, aqueles pioneiros que ajudaram a catalogar e difundir nossos costumes, cantigas, danças e lendas, aos quais agradecemos por poder hoje celebrar e viver a verdadeira tradição o Rio Grande do Sul.
Na verdade vamos falar de alguns, pois são tantos os que contribuíram para a tradição gaúcha que serão preciso vários programas pra falar de todos.
Como de costume, nosso programa começa com o Hino Rio-grandense e uma oração em forma de canção, hoje na vós de Luiz Marenco:
Bueno, como já falamos no programa passado, a história do povo gaúcho começou bem antes da Revolução Farropilha, mas foi só no século passado, lá por volta de 1940, talvez pela popularização do rádio e do disco, que a nossa cultura começou a ser catalogada e difundida. O que antes eram danças e cantigas, contos e lendas, transmitidas oralmente de geração em geração, passaram a ser registradas e difundidas pelas mãos, e principalmente pela vós, desses que hoje cultuamos como verdadeiros heróis da tradição gaúcha.
Pra quem não sabe, Tronqueira , segundo o nosso linguajar, refere-se as estacas grossas que sustentam os alambrados, pode ser chamado também de mourão, e apesar de existir o termo tronqueiro, é mais comum usarmos o termo tronqueira pra definir o sujeito que sustenta algo com sua própria força. Por isso chamamos nossos velhos tradicionalistas de Tronqueiras do Rio Grande.
Percebam que temos a impressão que o Mano Lima fala em tranqueira na música. Mas na verdade ele fala tronqueira, é só a pronuncia mesmo... ...Tranqueira é, em resumo, um obstáculo e é usado pejorativamente para indicar o sujeito maula que só estorva.
Tamo de volta com esta tropeada do boca braba, hoje falando sobre as Tronqueiras do Rio Grande.
Ao falar sobre os grandes Tradicionalista não podemos deixar de citar João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes. Agrônomo, compositor, cantor, radialista e pesquisador do folclore sul riograndense, Paixão Cortes era até pouco tempo talvez a única estátua viva do Gaúcho, isto porque ele foi modelo para a famosa estátua do laçador. Infelizmente Paixão Cortes partiu para estância de cima em 27 Agosto de 2018.
Nascido em Santana do Livramento em 12 de Julho de 1927. Essa verdadeira lenda do Rio Grande do Sul foi, junto com Barbosa Lessa e Glauco Saraiva, o responsável pela pesquisa e divulgação das tradições gaúchas.
Como já foi citado anteriormente, as lendas, canções e danças gaúchas surgiram no século XVII com a chegada dos colonizadores europeus a região do pampa, que pertencia a Portugal e Espanha e hoje compreende, além do Rio Grande do Sul, Uruguai e parte do Paraguai e Argentina. Essas tradições foram transmitidas oralmente por décadas e foi só por volta de 1947 que começaram a ser catalogadas por Paixão Cortes, Glauco Saraiva e Barbosa Lessa.
Muitas das canções e danças gaúchas que hoje são apresentadas nas invernadas artísticas dos CTGs provavelmente teriam se perdido não fosse a dedicação destes folcloristas.
Algumas músicas resgatadas por eles foram gravadas por Inezita Barroso em 1956, o que colaborou para difundir a cultura gaúcha em todo o país e no exterior.
Em 1948 Paixão ajudou a organizar o Movimento Tradicionalista Gaúcho e o primeiro CTG (Centro de Tradições Gaúchas) da História. Em 1953 fundou o Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição.
Formado em Agronomia Paixão Côrtes foi o responsável pela abertura de mercado da ovinocultura no Rio Grande do Sul. Foi ele quem trouxe da Europa novos métodos de tosquia, desossa e gastronomia, ajudando a incentivar o consumo de carne ovina. Aliás, fazendo um aparte, eu descobri que a carne de ovelha tem como papel importante o fornecimento de proteínas para o organismo, além de nutrir e auxiliar na construção de massa magra e evitar a perda de massa muscular. Por isso, esse tipo de carne é perfeito para para atletas, idosos e pessoas que estão em fase pós-cirúrgica, acelerando a recuperação. Coisa que nossos tropeiros já sabiam a mais de 200 anos.
Paixão Cortes talvez tenha sido o primeiro artista multimídia aqui do sul do mundo, pois além cantor, compositor e radialista também fez o papel de Pedro Terra no filme "Um Certo Capitão Rodrigo" baseado na obra de Érico Veríssimo "O Tempo e o Vento"
Paixão Cortes não teria feito todo esse trabalho de Resgate da cultura gaúcha sem o auxilio de Glauco Saraiva e Barbosa Lessa.
Luiz Carlos Barbosa Lessa nasceu em Piratini em 13 de dezembro de 1929 e faleceu em Camaquã à 11 de março de 2002
Além de Pesquisador e folclorista foi escritor e compositor tendo escrito mais de 600 obras, entre contos, músicas e romances. Participou intensivamente do processo de construção do Movimento que registrou e difundiu a cultura gaúcha do homem do campo. Junto com Paixão Côrtes e outros colegas do Colégio Júlio de Castilhos fundou o CTG 35 e o MTG definindo as características do que hoje é considerado "Gaúcho".
Dentre suas obras mais conhecidas destacam-se Rodeio dos ventos, um épico sobre como seria vida do povo gaúcho, e Os guaxos, pelo qual recebeu prêmio em 1959 da Academia Brasileira de Letras.
Ao mesmo tempo em que se dedicava à implantação do tradicionalismo, Lessa passou a pesquisar a música regional. Em 1957, criou a popular toada Negrinho do Pastoreio.
E pra concluir a história desse três pastores da cultura gaúcha, Glaucus Saraiva da Fonseca popularmente conhecido como Glauco Saraiva, poeta, tradicionalista, folclorista, historiador, professor, conferencista, músico, e compositor.
Sócio fundador da Estância da Poesia Crioula e do CTG 35, do qual foi o primeiro patrão. Idealizou o IGTF - Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, e o Galpão Crioulo do Palácio Piratini, que em 1983, passou a chamar-se Galpão Gaúcho Glaucus Saraiva.
Don Telmo que nos deixou em 18 de Fevereiro deste ano (2021) será tema do próximo Tronqueiras do Rio Grande, se o Patrão Velho lá de riba, assim nos permitir.
Tamo de volta com a nossa tropeada, desta feita apresentando o Chasque do Boca Braba, o momento em que este tocador de rádio deixa sua mensagem franca e sincera:
A peste chinesa que atingiu o planeta no ano de 2020 trouxe prejuízo para todos os setores da sociedade. A restrição no deslocamento e convívio entre as pessoas forçou diversos ramos da economia a parar suas atividades. Parece que a única classe que não sentiu os efeitos da crise foi justamente aquela que deveria fazer algo para amenizar os problemas: Os políticos. Perdidos entre brigas ideológicas e oportunidades de avançarem ainda mais sobre os cofres públicos... Bem, isso é assunto pra outro chasque.
Mas a classe artística é a que mais está sentindo o efeito da crise. Foi a primeira a parar e a última a voltar. Já se foi o tempo em que os músicos sobreviviam vendendo discos. Nem existem mais discos. E se depender do tal de ECAD, aí mesmo é que nossos cantadores tão lascados. Nossos músicos estavam sobrevivendo com suas apresentações ao vivo e bailes e parece que vai demorar para nossos "administradores" públicos liberarem os ajuntamentos.
Restou, para nossos artistas, as laives e os canais digitais. Então, o Boca Braba vai dar sua singela contribuição para amenizar um pouco a situação de penúria em que se encontram aqueles que vivem para trazer um pouco de alegria para esse nosso povo sofrido. Vamos divulgar os endereços eletrônicos do nossos artista para que tu possas contribuir sem abrir a guaiaca.
Se tu tens mais de trinta anos, eu vou explicar: Os canais de vídeo - principalmente o youtube - pagam para os artistas de acordo com o número de visualizações e seguidores. Portanto, visite os canais do seu artista preferido, assista os vídeos, te inscreve no canal, clique em seguir e compartilhe. Assim tu estarás ajudando teu artista preferido. Mas cuidado, tem que ser o canal oficial, com o nome do artista, e não aqueles identificados com o nome de outra pessoa, isto também é pirataria.
Os tocadores de música, tipo Espotify e Deezer, também remuneram, mas aí tu tens que assinar o plano pago. Se tu não gosta de ver aquelas propagandas do youtube, também pode assinar um plano pago. Fica a teu critério.
Pra te ajudar, aqui no Bolicho tem uma lista em ordem alfabética, com o endereço das redes sociais dos artistas. Vamos dar essa força pros nosso cantores tradicionalistas e torcer pra que essa peste acabe logo.
A nossa tropeada, está quase chegando ao seu destino e eu não apresentei a payada de hoje e nem o quadro da fina flor da grossura, então vamos encarreirar tudo de uma vez:
Seguimos com o bloco da fina flor da grossura chamando Bagre Fagundes, Baitaca e Berenice Azambuja:
A Berenice é outra Tronqueira rio grandense que nos deixou a pouco e merece um programa inteiro pra que possamos contar a sua história.
Estamos chegando ao final da nossa tropeada esperando que os amigos e amigas tenham gostado do nosso programa e pedindo ao Patrão Velho das Alturas que nos de força e saúde para estarmos todos aqui novamente na próxima semana neste mesmo dia e horário.
