domingo, 11 de setembro de 2016

11 de Setembro - Proclamação da República Rio-Grandense

Todo o gaúcho sabe que no dia 20 de Setembro é comemorada a Revolução Farroupilha e muitos acreditam ser esta a data da proclamação da nossa República - afinal está no nosso hino "...foi o vinte de setembro, o precursor da liberdade..." - mas a verdade é que a República Rio-Grandense  foi declarada no dia 11 de Setembro de 1836 - há exatos 180 anos.

Proclamação da República de Piratini, 1915, por Antônio Parreiras. fonte wikipedia

Em 1835 foi desencadeada a Revolução Farroupilha, que manifestava o descontentamento da Província de São Pedro do Rio Grande, a mais meridional do Império, com o governo regencial do Império do Brasil. Os objetivos do movimento, inicialmente não muito claros, tomaram um rumo irreversível nesse episódio.

Enquanto o líder, general Bento Gonçalves, concentrava-se em ações militares próximo a Porto Alegre, o General Antônio de Sousa Neto, comandante da 1ª Brigada Ligeira de Cavalaria do Exército Liberal, travava uma batalha contra forças imperiais, próximo ao Arroio Seival, em Bagé, que acabou em vitória rotunda e surpreendente. A batalha ficou conhecida como Batalha do Seival e ensejou que o Neto estabelecesse naquele momento a proclamação da República Rio-grandense. Mesmo sem o conhecimento de Bento Gonçalves, líder do movimento, Neto e seus pares, pelos princípios republicanos resolveram separar a Província do resto do Império do Brasil e proclamá-la uma nação republicana independente. Bento Gonçalves seria informado e aclamado presidente, posteriormente.

Eis o texto lido pelo General Antônio de Sousa Neto frente a suas fileiras:

        Bravos companheiros da 1ª Brigada de Cavalaria!

        Ontem obtivestes o mais completo triunfo sobre os escravos da Corte do Rio de Janeiro, a qual, invejosa das vantagens locais de nossa província, faz derramar sem piedade o sangue de nossos compatriotas, para deste modo fazê-la presa de suas vistas ambiciosas. Miseráveis! Todas as vezes que seus vis satélites se têm apresentado diante das forças livres, têm sucumbido, sem que este fatal desengano os faça desistir de seus planos infernais.

        São sem número as injustiças feitas pelo Governo. Seu despotismo é o mais atroz. E sofreremos calados tanta infâmia? Não, nossos companheiros, os rio-grandenses, estão dispostos, como nós, a não sofrer por mais tempo a prepotência de um governo tirânico, arbitrário e cruel, como o atual. Em todos os ângulos da província não soa outro eco que o de independência, república, liberdade ou morte. Este eco, majestoso, que tão constantemente repetis, como uma parte deste solo de homens livres, me faz declarar que proclamemos a nossa independência provincial, para o que nos dão bastante direito nossos trabalhos pela liberdade, e o triunfo que ontem obtivemos, sobre esses miseráveis escravos do poder absoluto.

        Camaradas! Nós que compomos a 1ª Brigada do Exército Liberal, devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência desta província, a qual fica desligada das demais do Império, e forma um estado livre e independente, com o título de República Rio-grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas se fará competentemente. Camaradas! Gritemos pela primeira vez: viva a República Rio-grandense! Viva a independência! Viva o exército republicano rio-grandense!

        Campo dos Menezes, 11 de setembro de 1836 – Antônio de Sousa Neto, coronel-comandante da 1ª brigada.


Nesse ponto o enfoque histórico muda de rumo. A "Revolta" ou "Revolução Farroupilha" dá lugar à guerra entre duas nações soberanas. Os historiadores se dividem: concretizou-se ou não o nascimento de um novo país? De qualquer forma, a disputa bélica a partir daí é preferencialmente[carece de fontes] chamada Guerra dos Farrapos do que Revolução Farroupilha, embora ambas as denominações sejam usadas, indistintamente, por outros autores, para todo o período desse confronto bélico.

Travessia por terra de dois navios da Marinha de Guerra da República Rio-Grandense. Dotados de gigantescas rodas e puxados por centenas de bois, os navios foram transportados por 80 km, da Lagoa dos Patos até Tramandaí, num dos maiores feitos militares da história. 

 

 O cenário da proclamação da República


A província do Rio Grande do Sul vivia momentos de tensão em 1835. O descontentamento com a política do governo central e a oposição entre conservadores e liberais, o estopim da Revolução Farroupilha, praticamente antecipavam o longo período de confrontos armados. Cerca de duas semanas depois de um grupo de rebeles farroupilhas ter ocupado Porto Alegre, cem homens deflagravam o movimento na Vila Piratini, comandados pelo capitão de milícia Antônio José de Oliveira Nico e por Domingos de Souza Neto. As primeiras colunas de farrapos marcharam pelas ruas estreitas da vila, a 8 de outubro, sob a aclamação dos piratinenses.

Por sua localização estratégica, no alto da Serra do Sudeste, e pela existência de dezenas de prédios proximos para a instalação dos comandos revolucionários, a vila tornou-se o centro de operações do movimento. Em dezembro de 1832, o coronel Souza Neto passou a chefiar a Legião de Guardas Nacionais da Comarca de Piratini, formada por quatro companhias recurtadas em Piratini, Canguçu, Cerrito e Bagé. Com 28 anos, comandou a coluna farroupilha que venceu, em 10 de setembro de 1836, em Seival, as tropas imperiais de Silva Tavares.

A vitória dos integrantes da Primeira Brigada Liberal marcou um dos acontecimentos militares mais importantes do movimento e despertou o desejo de emancipação dos farrapos. Na noite do combate de Seival, ainda sob a euforia da vitória, o capitão Manoel Lucas de Oliveira e Joaquim Pedro Soares foram até a barraca de Neto para convencê-lo a opcuar o posto de general-em-chefe do exército e proclamar a República.

Ali mesmo escreveram os rascunhos da proclamação. No dia seguinte, 11 de setembro, antes de sair o sol, as tropas já esperavam o futuro general nos campos dos Menezes, à margem esquerda do rio Jaguarão. Neto apareceu a galope. Postou-se ao centro da tropa, ergueu a espada e anunciou a proclamaão da República Rio-grandense. Dois meses depois, a Vila de Piratini tornou-se capital, e o general Bento Gonçalves da Silva foi eleito presidente da República, mesmo estadno preso há um ano no RIo de Janeiro e em Salvador.

Piratini permaneceu como capital por mais dois anos. Por motivos estratégicos, a capital foi transferida para Caçapava do Sul e, mais tarde, para Alegrete. Enfraquecida, a cidade levaria novo golpe. Um ato do governo provincial fez com que Piratini retornasse à categoria de vila. Iniciava-se o declínio.