terça-feira, 5 de julho de 2022

Programa do Boca Braba 22ª Tropeada - Linguajar Campeiro Parte II

 

Buenas Indiada! Estamos chegando para mais um Programa do Boca Braba, na Rádio Web Vento Norte de Cruz Alta, Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.

Quero mandar um quebra-costela do tamanho do garrão do Brasil pra esta gauchada que está no costado do programa, agradecendo ao Patrão Eterno por me permitir estar aqui e pedindo a Ele que abençoe a todos nós.

O tema do programa de hoje é o Linguajar Campeiro - Parte 2.

Vamos falar um pouco mais sobre as peculiaridades do nosso idioma pampeano e decifrar alguns termos que só existem na nossa pátria gáucha.

Mas antes, como de costume, vamos ouvir o Hino Rio-Grandense e uma oração:

Programa do Boca Braba. A cultura gaúcha com opinião. Ouvimos o Hino Rio Grandense executado na guitarra elétrica pelo grupo Tchê Barbaridade, e depois, Omair Ribeiro Trindade, de autoria de Dom Felipe de Nadal, Prece do Gaúcho.

No programa anterior falamos sobre as origens do nosso linguajar campeiro.
E, como o assunto é extenso, vamos continuar no mesmo tema, hoje explicando alguns termos e expressões que só existem por aqui.

Mas antes vamos ouvir algumas marcas.

Ouvimos, Jari Terres cantando, Coplas de um Índio Xucro, Letra de Rogério Ávila e Música de Leonel Gomes, depois, Luiz Marenco e José Cláudio Machado, de autoria deste, Dobrando os Pelegos, e a última, Mano Lima, Essência Campeira.

Para que tu tenhas uma noção da complexidade do linguajar campejano, só na primeira estrofe da música Coplas de um Índio Xucro, que ouvimos à pouco, temos cerca de vinte expressões regionais que vamos traduzir agora:

A maioria das traduções foram tiradas do Dicionário da Cultura Pampeana Sul-Rio-Grandense. Publicado por Aldyr Garcia Schlee

Então se bamo:

- MILONGA é uma Espécie de
música crioula de origem platina, cantada (em versos de oito sílabas) ao som de viola e que, assim como o pericón e a meia-canha foi adotada e adaptada ao gosto dos campeiros sul-rio-grandenses. A aceitação e a difusão da milonga, no Rio
Grande do Sul, contudo, é muito recente, como fenômeno de integração cultural do início do séc. XX. Milonga em sentido figurado pode significar feitiço ou bruxaria, e no plural, milongas pode significar mexericos ou intrigas.
- o MATE é a Bebida tradicional do habitante dos pampas, feita
com uma infusão de folhas trituradas de erva-mate. Também chamado de Chimarrão, Mate amargo, ou simplesmente, Amargo.
-POTRO é o Bagual, redomão, isto é, ainda não domado. Ou o Cavalo castrado, mas ainda não domado ou por domar.
- LOMBO é o Dorso de uma pessoa ou de um animal mamífero de criação doméstica. Pode ser também o Topo arredondado das coxilhas ou a Porção de carne localizada na região
lombar dos animais.
- XUCRO - Diz-se de animal arisco, esquivo, indócil e bravio como se fosse
selvagem. Figurativamente, diz-se de indivíduo insociável, de trato difícil.
- APARTE é a Ação ou efeito de apartar, ou separar, o gado.
- RODEIO é o Lugar do campo onde o gado, cavalo ou ovelha são reunidos. Tradicionalmente, dá-se nome de Rodeio ao Ajuntamento de gado, em campo aberto, feito para apartar, contar, examinar, marcar e tratar os animais. Temos também o termo Parar Rodeio, que é o mesmo que aparte de rodeio.

- FLOREIO (BRAS) S.m.- Ato ou efeito de florear, ou florear-se, que significa Brilhar, exceder-se na qualidade de uma apresentação ou demonstração de habilidade, no caso, floreio de cordiona.
- Cordiona ou CORDEONA é uma espécie de gaita de fole que possui caixa geralmente hexagonal, com
teclado de botões, e que teve ampla difusão em toda a campanha do Rio Grande do Sul, a partir da segunda metade do séc. XIX
- Abrir o peito significa cantar;
- Pataleio. Ato de patalear, isto é, bater com as patas.
- ÉGUA é a Fêmea dos animais equinos, em sentido figurado, significa a mulher grosseira, estúpida ou agressiva.
- VÁRZEA. Campo alagadiço, sem muita vegetação arbórea, próprio para a plantação de arroz. Pode ser também, Terreno baixo e plano, às margens de rios ou arroios.
- BRASINO. - Animal de pelagem escura com algumas manchas transversais ainda mais escuras. Como vimos na 8ª Tropeada, quando falamos sobre cavalos, o pelo do animal se torna o seu próprio nome. Então podemos dizer cavalo de pelo brasino ou simplesmente, Brasino.

- CAMPO A FORA:
CAMPO é a Extensão de terreno geralmente plano e dominado por pastagens ou o nome dado à Propriedade rural.
- Campo a fora significa afastar-se, fugir. Então um brasino campo a fora, significa o cavalo que fugiu e o gaúcho precisa armar o laço para trazê-lo de volta.
- ARMAR O LAÇO:
- Laço é uma correia de couro trançado com quatro ou mais tentos de couro, que o homem do campo fabrica e usa para laçar e pealar animais. Tem mais de vinte passos de comprimento, com largura de um dedo mindinho de um lado e mais grossa na parte final. Numa ponta, a mais fina, possui uma presilha que se prende à cincha do cavalo de quem o utiliza, na outra ponta há uma argola que permite formar-se uma laçada corrediça -  a armada -  a ser lançada sobre o alvo desejado, e através
da qual se chega a enlaçar. Constituiu, e segue sendo ainda uma excelente ferramenta de trabalho nas lides campeiras. Mas Laço também pode significar o nó corrediço facilmente desatável, usado para
amarrar calçados, gravatas e lenços; a linha de chegada, nas corridas campeiras; e Sova, castigo, punição ou surra.
No caso armar o laço significa preparar o laço para prender determinado animal.

Tu viste que, ao tentar explicar alguns termos, eu usei outros que são particulares do nosso dialeto. Se eu tentar traduzir estes, vamos ficar proseando vários dias e não abordaremos todos. Eu sugiro que o amigo e a amiga que tem interesse em conhecer mais do nosso linguajar de uma olhada no dicionário do saudoso Aldyr Garcia.
Tú podes encontrar o Dicionário da Cultura Pampeana Sul-Rio-Grandense em dicionariopampeano.com.br

Ouvimos, Erlon Péricles, de autoria deste e de Tuni Brum, Mais Gaúcho e antes, Mauro Moraes, de sua autoria, Cabanha Toro Passo.

Programa do Boca Braba 22ª Tropeada - Bloco 2

 

Programa do Boca Braba. A cultura gaúcha com opinião. Tamo de volta com esta tropeada do Boca Braba hoje falando sobre o Linguajar Campeiro.

Ouvimos, Nenito Sarturi e Grupo Manancial, Mapa do Rio Grande, depois, Ênio Medeiros e José Cláudio Machado, Pedro Mamede, e a última, Xiruzinho, de autoria de Noel Guarany, De Pulperias.

- MANANCIAL é uma Nascente, fonte, olho-dágua. Ou o Lugar onde há uma mina d’água.
- PULPERIA é o comércio limitado de secos e molhados, com livre fornecimento de bebidas, instalado geralmente no campo, ao longo de caminhos e em lugares estratégicos da campanha. Também chamado de Bulicho ou Bolicho.

Nas nossas prosas no programa do Boca Braba, este tocador de rádio usa diversas expressões regionais, então vamos explica-las, começando por Buenas Indiada.
Buenas, é um Cumprimento genérico, uma saudação campeira, pode também se dizer: Buenos Dias, Buenas Tardes ou Buenas Noites.

Indiada é o coletivo de Índio.
E Índio pode ser tanto o Habitante das Américas antes da chegada dos colonizadores europeus, ou os descendente desses habitantes que sobrevive e se reconhece como integrante de uma nação ou grupo de determinada etnia. Como também pode se referir ao indivíduo de tez morena, cabelo preto e traços faciais similares aos dos antigos povoadores.
De forma figurada diz-se de um tipo reservado, calado e austero. E também do campeiro competente e valoroso.
E é esta última definição que usamos quando chamamos alguém de índio ou um grupo de indiada, na verdade estamos elogiando estes indivíduos, reconhecendo serem pessoas valorosas e competentes.

Outros termos muito utilizados por este humilde tocador de rádio são Empezando e Bueno.

Ambas são expressões derivadas do espanhol.

Empezar significa Iniciar ou Começar, e Bueno, na tradução literal, significa Bom, mas pode ser usado como a interjeição que significa "pois bem" isto é, segue a conversa, que é a versão usada frequentemente no Programa do Boca Braba.

Ouvimos, na voz de Juliana Espanevello, a composição de Eduardo Muñoz e José Carlos Batista de Deus, Vaca Parada, depois, Passo das Catacumbas, música 2 do disco "De Campo e Raiz" primeiro CD do cantor Volmir Coelho, lançado em 2007 de forma independente, com todas as composições, letra e música de sua autoria.


Programa do Boca Braba 22ª Tropeada - Bloco 3

 

Programa do Boca Braba. A cultura gaúcha com opinião. Tamo de volta com a nossa tropeada hoje falando sobre o linguajar campeiro.

Das expressões peculiares do gaúcho, dois dos termos mais conhecidos são o Bah! e o Capaz.

O BAh! é a versão reduzida de barbaridade! Expressão exclamativa que traduz espanto ou admiração, mas pode ser utilizada em diversas ocasiões, por vários motivos, como quando o vivente esta proseando e, do nada diz Bah! Tchê, e segue a prosa. O tchê nós explicamos no programa passado que estará disponível Aqui.

A propósito: Prosa significa Conversa, diálogo, ou troca de ideias. Como substantivo, quando dizemos que um sujeito é Prosa significa que é contador de vantagens ou de mentiras.

E finalmente o Capaz. Que tem diversos significados, dependendo da entonação.
Capaz pode significar a possibilidade de ocorrência de determinada coisa. Por exemplo, na frase "é capaz que eu vá ao baile" o capaz indica uma provável possibilidade de eu ir ao baile.
Se a entonação for "Capaz que eu vou nesse baile". Significa que eu não vou de jeito nenhum.

Já quando alguém pergunta algo e eu repondo: Capaz, capaz mesmo ou bem capaz. Significa que não há nenhum possibilidade de ser verdade.

A entonação Capaz? = - indica espanto ou dúvida quanto ao que a pessoa acabou de ouvir.
Bem Capaz! significa "De jeito nenhum".

Resumindo: Capaz, Bem Capaz e Capaz Mesmo, tem vários significados dependendo da forma como é expresso, e se tu conviveres algum tempo com um grupo de pampeanos irá aprender a diferenciar estas diversas entonações.

Ouvimos, Crioulo dos Pampas, Milonga, Pampa e Querência, depois, Ernesto Nunes, Taura do Rio Grande, e a última, César Oliveira & Rogério Melo, de Anomar Danúbio Vieira, Rogério Melo e Juliano Gomes, Prego na Bota.

Muitas pessoas confundem o Gaúcho com o Pampeano.
O pampa corresponde as planícies dominadas pelo rio da Prata e seus afluentes imediatos, tanto em território argentino e uruguaio como brasileiro.
Compreendendeo as províncias da Argentina, de Buenos Aires a Corrientes, todo o território do Uruguai, além da metade Sul do Rio Grande do Sul.
Para o restante do Brasil, Gaúcho é o gentílico de quem nasce, ou vive, no Rio Grande do Sul. Geografias à parte, os costumes do Gaúcho brasileiro, se estendem do Rio Grande, passando pelo oeste de Santa Catarina e Paraná, até o mato Grosso do Sul, e é claro que existem Gaúchos em todo o Brasil e no mundo.
Lembrando da colonização Italiana e Alemã no nosso estado, vamos trazer mais duas marcas:

Ouvimos, com Bruno Neher e Jorge Fagundes, a trova Desafio do Gaúcho e do Alemão, e depois, O Grupo Piazitos cantando, Querência Amada em Italiano.

O Programa do Boca Braba vai dar vaza praos apoiadores locais e volta em seguidita no más.

Programa do Boca Braba 22ª Tropeada - Bloco 4

 

Programa do Boca Braba. A cultura gaúcha com opinião. Seguimos falando sobre o Linguajar Campeiro.

A patacauada de hoje é por conta de Ernesto Nunes.

Ouvimos, Ernesto Nunes, de sua autoria, Casa de Praia 2.

Encerrando com chave de ouro o assunto do linguajar campejano, vamos convidar o Lucas Negri do Linha Campeira, para explicar os termos Chiru, China e Chinoca:

O Lucas Negri e seus parceiros apresentam o programa Linha Campeira todo o domingo às 11 horas da manhã aqui na Rádio Vento Norte.

Ouvimos, Jesus Oliveira, Chão Crioulo, depois Walther Moraes, Baio Ruano, e a última, Porca Véia, O Outro Bugio.

O Programa do Boca Braba esta nos finalmente, e eu espero que os amigos e amigas tenham gostado do nosso programa e peço ao Patrão Velho das Alturas que nos de força e saúde para estarmos todos aqui novamente na próxima semana.