quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Último Bochincho - cantado

Último Bochincho Joca Martins
 Baseado na payada de: D. Jaime Caetano Braun
 
O resmungento nhenhém da acordeona conversava
fazia costa, roncava, rengueando no vai e vem
mal mal se enxergava alguém, entre murmúrio e relincho,
ali naquele bochincho, pras bandas do Itaroquém

Tirei a china trigueira, com toda a delicadeza
ela me olhou com surpresa e foi dizendo altaneira
não é que a mamãe não queira, nem que o papai me impedisse
mas ele sempre me disse - não dança com bagaceira

Fiquei que nem mamangava e o candeeiro estremeceu
nem o tinhoso entendeu o beleléu que se armava
a gaita me debochava, e atorei num sopetão
em virtude do carão que aquela maula me dava

Saltou fumaça com poeira, quando cortei a cordeona
bem pelo meio a chorona, ao correr da carneadeira
parou de repente a zoeira, ficou só o ar fumacento
e o meu arrependimento, prá durar a vida inteira

Cortar uma gaita em duas, só por capricho
um pecado, o velho orgão sagrado das nossas missas charruas
quantas pragas de chiruas e desaforos malucos
e relampear de trabucos, tinir de adagas e púas

Para contar o enredo, isso não é bem assim
no bárbaro rintintim onde não vale segredo
ali o índio que tem medo, nem que não queira se entangue
sentindo o cheiro de sangue, e o choro do chinaredo

E o que não viu, ficou vendo, o resultado do talho
como quem corta um baralho, num jogo em que está perdendo
foi como um chiado fervendo, num olheiro de formiga
quem não tem nada com a briga, peleia se defendendo

Num medonho solavanco, perdeu pé a bugra Raimunda
larguei um pardo cacunda e um outro meio lonanco
e o gaiteiro, atrás de um banco, benzido a moda gaúcha
contra bala de garrucha e folha de ferro branco

Depois de tudo acabado, isso foi lá pelas tantas
lombos cortados, gargantas e bugre descaderado
sangue fresco misturado com gordura de candeeiro
mas saiu limpo o gaiteiro, que o tocador é sagrado

Quando veio o comissário, pra tratar dos seus assuntos
pra encomendar os defuntos veio também o vigário
inda hoje o vizindário, quando fala se arrepia
nunca mais desde esse dia, festejei aniversário

E a china!!? Não sei da china, pra onde foi, de adonde veio
lambe sal nalgum rodeio da pampa continentina
cortando talvez a clina, na minguante de setembro
por castigo ainda me lembro, daquela maula brasina!


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