domingo, 14 de janeiro de 2024

LP Recordar é Viver - 1970 - Antenógenes Silva

Buenas Indiada! Nossa cultura gaúcha é imensa e maravilhosa, mas nem por isso deixamos de reconhecer o talento dos "estrangeiros". Hoje homenageamos Antenógenes Silva, este mineiro de Uberaba de origem humilde que chegou a ser considerado um dos maiores acordeonistas do mundo.



Antenógenes Silva, nasceu em Uberaba, no estado de Minas Gerais, em 30 de outubro de 1906. Filho de Olímpio Jacinto da Silva, serralheiro, ferrador de cavalos e acordeonista, e de Maria Brasilina de São José. Pelo lado materno, descendia do então empobrecido Barão da Ponte Alta. Freqüentou a escola por apenas dois anos, começando a trabalhar muito cedo. Já nessa época, tocava acordeão e compunha. Em 1927, trabalhando como servente de pedreiro, mudou-se para Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, e iniciou sua carreira artística. No ano seguinte, na capital paulista, começou a tocar na Rádio Educadora. Em 1929, gravou seus primeiros dois discos na Víctor, interpretando o choro "Gostei da Tua Caída", o maxixe "Saudade de Uberaba", e as valsas "Norma" e "Feliz de Quem Ama", todas de sua autoria. Gravou também na Orion e na Arte Fone. Em 1931, casou-se com Marcília Marinari, violinista e locutora com o nome artístico de Léa Silva, que, depois de atuar na Rádio Nacional, foi para os Estados Unidos trabalhar na CBS e na NBC. Mudou-se para Rio de Janeiro em 1933, tornando-se desde então nacionalmente conhecido. Acompanhou grandes intérpretes nacionais e internacionais, entre eles, Lucienne Boyer e Marta Eggerth. Em 1934, fez uma turnê pela Argentina, e chegou a gravar com Carlos Gardel e Libertad Lamarque. Foi o primeiro a tocar música lírica no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Nunca deixou de se aperfeiçoar, tendo aprendido harmonia, solfejo e orquestração com Guerra Peixe. Foi também professor de Luiz Gonzaga, quando este ainda não era famoso. Em 1949, tendo concluído o curso primário em São Paulo, fez o ginásio em Niterói, formando-se depois em Química Industrial. Antenógenes sempre manteve uma atividade paralela à vida artística, como comerciante de queijos. Depois de se formar, fundou o Laboratório Creme Marcília no Rio de Janeiro, do qual foi diretor-presidente. Em 1957, ganhou o primeiro lugar no concurso patrocinado pela fábrica de gaitas "Honner", realizado em Trossingen, na Alemanha, tendo sido considerado um dos maiores acordeonistas do mundo. Nessa ocasião, recebeu convite para apresentações no Conservatório de Paris. Dois anos depois, fundou a Rádio Federal de Niterói, que ajudou, literalmente, a construir com as próprias mãos. Conhecido como "O Mago do Acordeão", tem uma extensa discografia. Durante muitos anos, manteve no Rio de Janeiro uma escola de acordeão, com cursos de teoria, solfejo e harmonia. Compôs valsas, tangos, xotes, mazurcas, sambas, rancheiras e outros ritmos. Gravou mais de 130 composições de sua autoria sozinho ou com diversos parceiros. Autor de sucessos como “Alegria” (1933), as valsas “Pisando Corações” (1936) e “Saudades de Matão” (1937), esta conhecidíssima valsa descoberta por Raul Torres na Estação Ferroviária de Bebedouro/SP, e que gerou inúmeras controvérsias com relação à autoria da mesma, “Saudades de Petrópolis” (1942), “Mês de Maria” (1947) e outros mais. Trabalhou no Rádio e na TV, onde apresentou o programa “O Rancho Alegre de Paulo Bob”. Antenógenes Silva faleceu em 09 de março de 2001 no Rio de Janeiro, aos 94 anos, vítima de insuficiência renal. Fonte: Sandra Cristina Peripato https://www.recantocaipira.com.br/duplas/antenogenes_silva/antenogenes_silva.html

domingo, 8 de outubro de 2023

O Rio Grande do Sul - Postais Sonoros 1 - 1962

 


O Rio GRANDE do Sul

A TERRA - O HOMEM - O TRABALHO - A ALEGRIA - O AMOR - A CRENÇA


 A TERRA

Ao sul do Brasil (Fronteira om Uruguai e Argentina) estende-se uma imensa campina, outrora disputada tenazmente por Espanha e Portugal em infindável guerra. Habitualmente essa planície é silenciosa e erma, numa solidão maior que o próprio oceano. Pois se no mar se escuta ao menos o constante marulhar das vagas, aqui nem isso, apenas de quando em vez o grito de um alerta "quero-quero" (pequeno pernalta dos campos) a anunciar algum cavaleiro transitando na campina, mas há os dias da planície despertar, é quando, para a festiva lida de reunir-se o gado, surge com sua teatralidade inata o personagem que vai conduzir esta história: o "gaúcho", figura representativa do Rio Grande do Sul. 

FACE A

O HOMEM

Segundo a lenda, a palavra "gaúcho" significa "gente que canta triste". Ao solista exprime um soldado saudoso da pátria e da mulher amada; em fundo um coral de vozes másculas, nascido das guerras de fronteira:

https://www.youtube.com/watch?v=te7Gd8VprNs&t=0s

 01 - Canção do Gaúcho - Geraldo Príncipe

       (M. Faria Corrêa - Eduardo Martins)

Ao coral da tradição se acrescenta, por vezes, a voz dorida dos guerreiros mortos. É quando nas noites de inverno geme o minuano, vento fantástico, em sua missão de retemperar o gaúcho ao rijo açoite do frio:

 02 - Quando Sopra o Minuano - Chico Raymundo

       (Barbosa Lessa)conteúdo protegido por direitos autorais autorais https://www.youtube.com/watch?v=L5IfZXGe1HM&t=163

Aqui na interpretação do saudoso José Cláudio Machado: https://www.youtube.com/watch?v=GpB9HQ4R_6s

O TRABALHO

Mas o minuano, na doida correria, carregou consigo a própria noite. Nasce o sol, é mais um dia para o árduo trabalho das fazendas. Lá surge o boiadeiro com seu gado, sacudindo o silêncio com seus gritos:

https://www.youtube.com/watch?v=te7Gd8VprNs&t=191s

03 - Canção do Tropeiro - Chico Raymundo

       (Barbosa Lessa)

O gaúcho só sabe trabalhar montado em seu cavalo. Mesmo para debulhar as vagens do feijão colhido - ao invés de  bater com as varas - ele apela para os cascos do cavalo. É o círculo-vicioso de uma "eira":

05 - Cantiga de Eira - Geraldo Principe

       (Barbosa Lessa)

Eprega-se o cavalo até mesmo na lida do velho carro-de-bois. E vez de viajar no próprio carro, o "carreteiro" vai ao lado da carreta, cavalgando mansamente, em jornada monótona, sem fim, sem pressa de  chegar:

04 - Roda Carreta - Chico Raymundo

       (Paulo Ruschel)

A CRENÇA

Esse homem que moureja nos campos tem sua crença e devoção: um humilde escravo, que morreu dos maus-tratos de um "sinhô", e que hoje intercede junto a Nossa Senhora quando se perde um bem de alto valor. Se a gente acende uma vela, o Negrinho trás de volta aquilo que se perdeu. Ele tem força para devolver-nos até mesmo a "querência" - pedaço-de-chão de nossa infância, que a alma nunca esqueceu:

https://www.youtube.com/watch?v=te7Gd8VprNs&t=671s

06 - Negrinho do Pastoreio - José Tobias

       (Barbosa Lessa)

FACE B

O AMOR

Mas o homem rio-grandense não vive apenas para as agruras da guerra e as canseiras do gado: vive também para o amor e o carinho de sua "prenda" Nesta milonga o canto explica como é que o gaúcho ama:

https://www.youtube.com/watch?v=te7Gd8VprNs&t=838s

07 - Milonga do Bem Querer - Chico Raymundo

       (Barbosa Lessa)

Mas... e a gaúcha? como é que ama a gaúcha? - Na solidão do ranchinho perdido na planície, ela sonha. Imagina como seria bom se o seu noivo boiadeiro deixasse de correr mundo, parasse para escutar sua prece:

08 - Andarengo - Carla Diniz

       (Barbosa Lessa)

A FESTA

O coração da gaúcha, porém, não foi condenado a ficar assim eternamente só. E seu oração pressente, no grito de um quero-quero, o retorno do andarengo! Um abraço, um mesmo ardor de saudade:

https://www.youtube.com/watch?v=te7Gd8VprNs&t=1066s

09 - Quero-Quero - Carla Diniz e Carlito Gomes

       (Barbosa Lessa)

A euforia do reencontro pede um momento de festa. Então aquele homem que "cantava triste" - nas noites de acampamento - se transmuda por completo: ei-lo tinindo esporas, na alegria de um sapateado:

10 - Rancheira de Carreirinha - Conjunto Barbosa Lessa

       (Barbosa Lessa)

"...E siga o baile!" Os pares se enlaçam para nova dança. No ameno convívio de sua "prenda" o rude campeiro se transforma tanto, que em algumas vezes a dança chega quase a parecer uma ciranda infantil:

11 - Pezinho - Conjunto Barbosa Lessa

       (Barbosa Lessa)

O SÍMBOLO

No momento em que se despede e volta a mergulhar no horizonte ao passo calmo do cavalo, o gaúcho se desfaz de seus traços regionais e surge para nós com a universalidade de um símbolo: homem da campina, perseguidor do infinito, traço de união entre  a planície e o mar, irmão de todos os povos cavaleiros do mundo - ligando o pampa aos "llanos" da Venezuela ou  às pradarias do "far-west" norte americano:

https://www.youtube.com/watch?v=te7Gd8VprNs&t=1520s

12 - Despedida - José Tobias

       (Barbosa Lessa)


Produção: AYRTON SOUZA

Direção: BARBOSA LESSA PRODUÇÕES